Não tem sentindo eu contar para vocês (falo como se houvesse tanta gente que se importa tanto assim com a minha vida, quem dera...) todos os episódios horríveis da minha vida sem explicar a origem, ou seja, como isso começou. Até o 5º ano eu me sentia a criança mais feliz do mundo, tinha muitos amigos, minha escola era ótima, parecia a vida perfeita (pra uma criança). E então chegou o dia em que eu tive de me mudar pra outra cidade. Me despedi dos meus amigos de longo prazo e chorei muito durante alguns dias, mas resolvi que tinha que levantar a cabeça e seguir em frente. Comecei a ver as coisas pelo lado bom: me mudei para um condomínio então faria muitos amigos; minha casa era linda, meu quarto era demais; tinha uma piscina, e eu amo nadar. Passaram as férias e tinha chegado a hora que eu estava temendo: a volta ás aulas. Na verdade o medo era da nova escola, pois estava desacostumada a ser a novata, não sabia o que as pessoas pensariam de mim, mas estava confiante, ficava imaginando se as garotas eram legais, se os meninos eram iguais aos da minha antiga escola, e os professores, chatos ou legais? Cheguei na nova escola no primeiro dia de aula, e ninguém falou comigo além dos professores, isso baixou todas as minhas expectativas. Segundo dia, ninguém veio falar comigo de novo. Mas, o terceiro dia foi o pior, preferia que tivesse sido como o primeiro ou o segundo, mas não; no terceiro dia de aula começaram a me zoar. Eu era baixinha e não tinha nada de corpo, talvez fosse por isso, me senti muito mal naquela primeira semana. Apesar de ter feito poucos amigos, o 6º ano não foi um ano muito bom pra mim, sempre tinha alguém zombando de mim. No 7º ano mudei pra turma da manhã, nos primeiros dias algumas pessoas falaram comigo, outras me zoaram, mas só uma garota realmente se importou comigo. Ficamos muito boas amigas, talvez pelo fato de que nós duas sofríamos bullying das mesmas pessoas. Mas com o tempo rolou um boato de que minha amiga era bi (caso você não saiba, é uma pessoa que gosta de meninos e meninas). Foi aí que piorou, ela começou a sofrer depressão e eu fui chamada de lésbica por mais de um mês só porque eu andava com ela. No 8º ano, já tinha alguns amigos na sala, mas não foi o suficiente. Pra me livrar de todos aqueles insultos e o sofrimento comecei a fazer uma coisa terrível a mim mesma, e não conseguia parar. Foi assim durante muito tempo. Foram nesses 3 anos quase insuportáveis que descobri que até o 5º ano, quando ainda era uma criança, nunca tinha sofrido de verdade, que aquilo não era uma vida de verdade, era só uma ilusão, como quando você está a caçar um passarinho, você o ilude com uma migalha de pão até a sua armadilha e depois o prende, mostrando a ele a verdade sobre aquilo tudo, uma realidade complicada e cruel.
- Blair
Música que eu costumava ouvir "naqueles momentos": Breathe Me - Sia